O presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) errou ao comentar a decisão da FDA (agência de regulação de drogas e alimentos no EUA) de revogar a autorização para uso emergencial da hidroxicloroquina e da cloroquina em pacientes com Covid-19.
Em suas redes sociais, Bolsonaro disse, erroneamente: "Ao contrário do que foi noticiado pela mídia brasileira, a utilização da hidroxicloroquina não foi abolida nos EUA. A retirada do status de 'uso emergencial hospitalar' da Hidroxicloroquina pela FDA (ANVISA Americana) nada mais é do que uma autorização para o uso em qualquer ambiente, inclusive em casa, desde que receitada por um médico. A medida amplia o alcance do tratamento com Hidroxicloroquina".
Na verdade, a FDA "determinou que a cloroquina e a hidroxicloroquina são improváveis de serem eficazes no tratamento da Covid-19. Além disso, à luz dos sérios efeitos adversos cardíacos e de outros efeitos colaterais possíveis, os benefícios conhecidos e potenciais da cloroquina e da hidroxicloroquina não são maiores do que os riscos conhecidos e potenciais", como diz o comunicado da agência reguladora em seu site.
De qualquer modo, tanto nos EUA como no Brasil existe a possibilidade da prescrição off label, ou seja, fora da bula, sob responsabilidade do médico.
Essa possibilidade é enfatizada por Alex Azar, secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, em um vídeo publicado por Bolsonaro com a mensagem sobre a decisão da FDA.
Azar diz: "A autorização de uso emergencial era restrito para uso hospitalar. Com a FDA observando que não dados suportando o uso hospitalar para os casos mais extremos, eles retiraram o uso emergencial. A hidroxicloroquina e a cloroquina são como quaisquer outras drogas aprovadas nos EUA. Elas podem ser usadas no hospital, em casa, tudo sob a prescrição de um médico".
"Se o médico quer prescrever para o paciente, ele pode prescrever para qualquer propósito que queira", afirma o secretário, que também diz que a revogação elimina o mal-entendido que, segundo ele, havia de que a droga só poderia ser usada em hospitais. "Então, na verdade, simplifica", diz o mandatário americano Donald Trump, ao lado de Azar.
Trump criticou a decisão da FDA. Segundo a Reuters, o presidente disse que só as agências reguladoras americanas falharam em compreender os benefícios dos medicamentos no tratamento ao coronavírus.
A própria FDA, contudo, contraindica o uso da cloroquina e sua derivada fora de ambientes hospitalares e de ensaios clínicos pelo risco de arritmias cardíacas.
Além disso, o NIH (Insituto Nacional de Saúde dos EUA), em suas orientações sobre a Covid-19, também contraindica a utilização da cloroquina para tratamento da doença, a não ser para pesquisas médicas.
Segundo a FDA, a autorização para uso emergencial de medicamentos ajuda a fortalecer o sistema público de saúde contra ameaças ao facilitar a disponibilidade e uso drogas durante emergências de saúde.
A FDA concedeu a autorização emergencial para uso da cloroquina em março, em momento de pressão de Trump, que se pronunciava publicamente pela ampliação do uso da droga em pacientes com o novo coronavírus.
Mesmo com evidências científicas apontando a falta de eficácia da cloroquina para tratar a Covid-19, Bolsonaro insiste no uso da droga para enfrentamento da pandemia no Brasil. O Ministério da Saúde informou, na segunda (15), que vai ampliar a oferta de cloroquina e hidroxicloroquina para gestante e crianças, apesar de não haver evidências positivas relacionadas à droga.
A insistência de Bolsonaro para utilização precoce da droga levou à demissão do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, que afirmava que a mudança não era correta e não tinha amparo cientifico. Após sua saída, o protocolo para uso da droga em casos mais leves foi apresentado pelo ministério.
Mesmo com o protocolo da pasta, porém, a maior parte dos estados brasileiros o ignora por não haver evidências científicas da eficácia do remédio.
Os EUA de Trump, que também é defensor da droga, mesmo sem evidências, recentemente enviaram 2 milhões de doses de hidroxicloroquina para o Brasil.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.