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Guatemala prende jornalista que publicou denúncias sobre presidente

José Rubén Zamora é fundador e chefe do El Períodico, reconhecido internacionalmente por investigações de corrupção

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Cidade da Guatemala

A polícia da Guatemala prendeu o jornalista José Rubén Zamora, presidente do El Periódico, um dos principais jornais do país. O veículo denunciou supostos atos de corrupção envolvendo o presidente guatemalteco, Alejandro Giammattei, e a procuradora-geral, María Consuelo Porras.

Zamora foi detido na sexta-feira (29) em sua residência no sul da Cidade da Guatemala. Ele é investigado por lavagem de dinheiro, chantagem e tráfico de influência. A sede do jornal também foi invadida, em uma operação que o veículo atribuiu a uma retaliação por suas publicações.

José Rubén Zamora, fundador do jornal El Periódico, é preso na Guatemala - Luis Echeverria - 30.jul.22/Reuters

Segundo Rafael Curruchiche, chefe da Promotoria Especial Contra a Impunidade (Feci) do Ministério Público, a prisão de Zamora "não tem nada a ver com sua condição de jornalista, mas sim por um possível ato de lavagem de dinheiro em sua condição de empresário".

Curruchiche foi adicionado recentemente pelos Estados Unidos à Lista Engel de "corruptos e antidemocráticos". Segundo os EUA, o funcionário liderou investigações com acusações espúrias contra ex-promotores antimáfia. Coube à Procuradoria-Geral a nomeação dele para o atual cargo.

Além de Zamora, a polícia guatemalteca prendeu a promotora adjunta da FECI, Samari Carolina Gómez Díaz. Ela é acusada de divulgar informações confidenciais da instituição pública.

O El Periódico é reconhecido internacionalmente por seu trabalho investigativo. Em 2021, o jornal recebeu o título de mídia de destaque da Iberoamérica. Na época, o rei da Espanha, Felipe VI, entregou o prêmio a Zamora.

O ombudsman do veículo, Jordán Rodas, lamentou a prisão de Zamora e lembrou que o jornalista possui medidas cautelares da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

"É em um momento muito difícil. Não gostaria de pensar que estamos nos tornando a Nicarágua 2.0", disse Rodas, referindo-se às prisões e condenações de jornalistas críticos ao ditador nicaraguense Daniel Ortega nos últimos anos.

Jornalistas guatemaltecos protestaram contra a prisão de Zamora. "Não se cala a verdade calando jornalistas!", gritaram no sábado funcionários do El Periódico e de outros meios de comunicação em frente aos tribunais do centro da capital, para onde Zamora foi levado por volta da 0h.

Na edição de sábado, o El Periódico culpa o presidente do país pela prisão de Zamora, que iniciou uma greve de fome em protesto por sua detenção. "Deixem-me morrer se necessário, mas que a justiça seja feita", disse a repórteres. Ele ficará preso, ao menos, até segunda (1º), quando prestará depoimento.

Pedro Vaca, relator especial para a Liberdade de Expressão da CIDH, tuitou que acompanha a prisão e as buscas que policiais e promotores realizaram no jornal. "Faço um apelo às autoridades para que zelem pelo cumprimento dos direitos e garantias judiciais."

Em junho, a CIDH incluiu a Guatemala em sua lista de países onde observa graves violações de direitos humanos. A comissão registrou, no país, um "enfraquecimento progressivo das instituições democráticas" e "interferência sistemática contra a independência" do Judiciário. Giammattei rejeita essas acusações.

O Ministério Público, sob a liderança de Consuelo Porras, foi questionado por prender e processar vários juízes e promotores antimáfia, embora a entidade assegure que todos eles descumpriram funções.

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